Demi
O outono passou rapidamente e quando
surgiu a primeira neve em dezembro, meu coração tinha começado a curar,
mas eu sabia que nunca ia esquecer Joe. Ou Madison. Eu ainda sentia falta deles
terrivelmente, mas meu orgulho não me deixaria entrar em contato com ele. Ele
fez sua escolha. Em alguns aspectos, era o mesmo padrão com
que eu tinha crescido. Meu pai escolheu o trabalho em vez de mim e minha mãe
demasiadas vezes para contar. Apenas que com o trabalho de Joe, a traição era
muito mais devastadora.
Ao longo das últimas
semanas, eu de alguma forma tinha caído na rotina de namorar ativamente com Peter.
Talvez fosse porque ele era fácil de estar ao redor e aliviava a sensação de
estar sozinha, ou talvez porque deixava a minha mãe tão ridiculamente
feliz, mas seja qual for a razão, eu já estava saindo com ele várias vezes por semana.
Ele tinha me levado para passear a cavalo e sair para almoços casuais e
jantares extravagantes. Ele até chegou a jantar um domingo no clube por insistência
de minha mãe.
Passei o feriado de Natal em Aspen
com os meus pais, esquiando, comendo muito e visitando o spa. Foi um bom
feriado, mas é claro, até lá, do outro lado do país, eu não conseguia manter meus pensamentos longe de Joe
e Madison.
Especialmente depois que ele me
enviou um cupcake com uma nota que afirmava que ele não me
tinha esquecido e que sentia minha falta. Passei os primeiros dias em Aspen
colada ao meu celular, certa de que ele ia ligar. Mas a chamada nunca veio.
Talvez os feriados e queda de neve o
tinham feito sentimental, isso era tudo.
No entanto, eu me encontrei deitada
na cama acordada à noite, me perguntando se eu deveria ter enviado a Mad um
presente de natal, ou se eles tinham feito uma ceia de Natal. Por alguma razão, eu me
sentia deprimida de pensar que os dois estariam sentados à mesa da cozinha
fazendo uma pequena refeição com ovos mexidos e asas de frango. Eu me perguntei se eles
gostariam de lagosta, que foi o que os meus pais e eu comemos. Não
importava. Eu precisava tirá-los da minha cabeça. Quando voltasse de Aspen, eu iria
jogar me de volta à minha rotina normal, inclusive vendo Peter novamente.
No meu primeiro sábado
depois de Aspen, Peter havia providenciado para nós vermos uma matinê de O
Quebra-Nozes e ele ia me pegar a qualquer minuto.
Eu estava vestida com uma camisa cor
de vinho, uma calça cinza e minhas botas até os joelhos, deixando o meu cabelo
solto em torno de meus ombros. Eu observava da janela da frente para a chegada
do carro de Peter. Costumava ir ao encontro dele na calçada, pois preferia não ficar
sozinha com ele no meu apartamento. Embora eu gostasse de passar tempo com ele,
de jeito nenhum estava pronta para me aproximar do lado físico de
novo, com ele ou com qualquer um.
Mas, até agora, Peter tinha sido
muito paciente, contentando-se com beijos rápidos de boa noite em seu carro quando ele me
deixava.
Eu deslizei no seu Lexus, e ele se
inclinou sobre o console e me deu um beijo rápido no rosto.
— Você está bonita.
Como foi em Aspen?
— Foi bom. Muito tempo nas pistas com
o meu pai e muito tempo no spa com minha mãe.
Não acrescentei mais. Senti-me um pouco
estranha ao falar com Peter sobre os meus pais desde que ele trabalhava para o
meu pai, mas ele não pressionou para mais detalhes. Ele estava vestido com
uma camisa de malha grossa, e eu não podia deixar de dar uma risadinha. Não era o
tipo de coisa que um homem escolheria e tinha que ser um presente de Natal de
sua mãe. Eu me
recostei na cadeira e tentei relaxar, apenas aproveitar o dia. Eu ainda não tinha
me acostumado ao cheiro de novo de seu carro. Sobrecarregava meus sentidos,
como se estivesse bombeando-o através das aberturas de ventilação.
Nós dirigimos em silêncio em direção ao
teatro, e eu me vi bocejando. As noites sem dormir durante as últimas
semanas tinham me alcançado.
— Você se importa se nós
pararmos para um café antes do show?
Ele olhou para o relógio em
seu braço. — Se fizermos isso rápido, tudo bem.
Alguns minutos mais tarde, eu
indiquei o sinal verde do café se aproximando na próxima saída.
Peter saiu da estrada e foi para o
estacionamento, navegando para a pista drive-thru, que estava com
congestionamento de candidatos à café.
Eu contei os carros à nossa frente.
Sete.
— Droga.
Peter abrandou e soltou um suspiro.
Tirei o cinto de segurança. — Eu vou
correr lá dentro.
Vai ser mais rápido.
— Demi, já estamos
na fila. — Ele olhou no espelho retrovisor. — E tenho a saída
bloqueada agora.
— Não se preocupe, vamos
fazer uma corrida. Você espera aqui e eu entro.
— Uma corrida, hein? — Ele sorriu.
Concordei, e pulei para fora do
carro. — Sim. E eu vou ganhar. Volto já.
Uma vez dentro, percebi que havia
apenas duas pessoas na minha frente no balcão. Ia ser rápido. Eu contemplei meu
pedido, lembrando que Peter gostava de chocolate quente com chantilly, quando o
som de um riso rico masculino encontrou meus ouvidos do outro lado da sala.
Havia algo notavelmente familiar e o pânico subiu no meu estômago. Eu
relutantemente me virei e vi Joe sentado em uma pequena mesa redonda em frente
a uma mulher.
Eu gostaria de poder me esconder, que
o chão se
abrisse e me engolisse toda, mas é claro que isso não iria
acontecer. Ele ainda não tinha reparado em mim. Havia ainda uma chance de eu
sair sem ser vista, mas não pude resistir a mais um olhar.
Joe era exatamente como eu me
lembrava, todo músculo rígido e características masculinas, uma sombra do crescimento
de sua barba se espalhando em sua mandíbula. Ele se inclinou para frente, apoiando
os cotovelos sobre a mesa, ouvindo atentamente a mulher. Eu só podia
ver o perfil dela, mas ela parecia familiar e minha mente trabalhou para
reconhece-la. Era uma das babás que ele usava? Algo sobre o cabelo ruivo dela pendurado
pelas costas fez minha mente trabalhar em horas extras. Não
importava. Eu precisava sair daqui.
Dei um passo para trás e bati
bem no centro de uma torre de canecas de renas, desmoronando a coisa toda.
Joe e escolheu aquele exato momento
para olhar para cima. Seus olhos se fixaram nos meus e sua testa franziu.
— Demi? — Ele estava de pé e se
dirigindo para mim antes que eu pudesse tentar escapar. — O que você está fazendo
aqui?
— Joe. — eu murmurei incoerentemente,
encontrando seu olhar preocupado.
— Sim, é Joe. — Ele pressionou a
palma da mão em meu rosto. — Você está bem? Me parece um pouco
pálida.
Meus olhos correram para o outro lado
da sala para ver a ruiva em sua mesa.
Ela virou-se para nos observar e eu
soube imediatamente quem era. Meus joelhos tremeram e uma onda de náusea me
atravessou. Joe estava em um encontro com a garota de seu primeiro filme pornô.
Desiree, eu acho. Lembrei-me de respirar, mas pouco bem me fez. Minha cabeça
estava nadando com esta descoberta. Ela foi a razão pela qual ele escolheu
seu trabalho ao invés de mim? Há quanto tempo eles estavam se vendo fora do trabalho?
Joe olhou para a mulher e soltou um
pedido de desculpas cortado.
— Desculpe. Deixe-me apresentar-lhe a
Sara. — Ele fez sinal para ela se aproximar.
Sara? Parece que Desiree era seu nome
artístico.
Quando ela se levantou da mesa, sua mão se
moveu para sua barriga inchada e uma onda de pânico me atingiu. Ela estava grávida de
vários
meses. Minhas pernas ficaram fracas e eu desabei.
Quando voltei a mim, estava deitada
no chão. Joe
estava segurando a minha cabeça em seu colo, varrendo os dedos na minha testa.
Meus olhos nebulosos encontraram os seus que estavam preocupados.
— Docinho? — Ele questionou.
Mexi-me para me sentar, mas suas
grandes mãos sobre meus ombros me seguraram no lugar.
— Fique aqui. Você desmaiou e caiu no
chão. Bateu
com a cabeça no chão antes de eu poder te pegar.
Ele esfregou a parte de trás da
minha cabeça, massageando o caroço inchado sob o meu cabelo.
— Ai! — Estremeci com o contato.
— Isso é o que eu pensava.
Quando me lembrei do que tinha me
enviado para o chão em primeiro lugar, “ver Sara grávida”,
um soluço se soltou na parte traseira de minha garganta e eu me esforcei para
me libertar das garras de Joe. Eu não queria ele me segurando, tentando me
consolar agora. Já para não falar que eu podia ver que estava causando uma grande
comoção no
café, esparramada pelo chão do jeito que estava. Joe acenou para longe uma barista
que veio na nossa direção com uma expressão de preocupação.
— Eu cuido dela.
— Joe, me levante.
Ele abriu a boca para argumentar, mas
a determinação nos meus olhos o convenceu. Ele me ajudou a levantar do
chão e
sentou-me numa cadeira de couro em frente à lareira. Limpei as lágrimas
frescas de ambas as bochechas, mas o esforço foi inútil. As
lágrimas
se recusaram a parar.
Sara estava parada ao seu lado, e eu
ouvi Joe pedir-lhe para ir buscar alguns lenços para mim. Ela saiu correndo
para o banheiro.
Peter entrou na loja de café. — Demi,
vamos lá,
estamos atrasados... — Ele parou na minha frente, olhando para o meu rosto
cheio de lágrimas. — Demi?
Merda. Eu tinha esquecido
completamente de Peter. Peguei os lenços de Sara e os pressionei no meu rosto.
Tanta coisa para colocar rímel hoje. Joe se ajoelhou ao lado da minha cadeira, pegando
os lenços de mim para ajudar a enxugar as minhas lágrimas.
— Demi...? O que há de
errado? E quem é esse cara? — Peter perguntou.
— Sinto muito Peter. — eu consegui
falar. — Este é Joe.
Os olhos de Peter foram para Joe
ajoelhado, e um olhar de incredulidade alcançou seu rosto.
— É esse cara?
Peter não sabia muito sobre Joe,
só que ele
era o cara com quem eu tinha saído antes dele, e que ele era a razão de eu
não querer
ter um relacionamento agora por causa da maneira ruim que as coisas tinham terminado
entre nós. Eu
podia ver a surpresa de Peter por eu ter namorado um cara como Joe, todo
desalinhado, jeans desgastados, botas de trabalho e um pulôver de manga
comprida justa que enfatizava seu peito musculoso, o oposto de Peter com gel de
cabelo, blazers e sapatos italianos mocassins de couro. Assoei meu nariz,
sabendo que parecia uma bagunça e não me importando. Me sentia como se tivesse
sido atingida por um trem.
Joe olhou entre Peter e eu — Vou levá-la para
casa. — ele informou a nós dois.
Eu guinchei um protesto, e Peter deu
um passo mais perto. Mas Joe levantou-se, elevando-se sobre nós dois.
Ele se virou para Sara, colocou uma mão em sua barriga, e se inclinou em direção a ela
para sussurrar algo em seu ouvido.
Uma dor esfaqueou o meu peito.
Peter colocou a mão no meu
ombro, mas se voltou para abordar Joe.
— Você não tem
nenhum direito sobre ela. Primeiro de tudo, nós temos um compromisso.
Segundo, eu tenho certeza que você é a razão de ela estar chorando agora.
Sara beijou o rosto de Joe e se
dirigiu para a porta. Eu não a culpei por desaparecer. Isso soou muito inteligente
da parte dela.
— Nós não temos
que ir, Peter. — A última coisa que eu queria fazer neste momento era
assistir a um balé que incluía uma doce história de amor.
— Eu... ah... não lhe
disse antes Demi, mas eu ganhei estes bilhetes do meu tio. Estamos nos unindo a
ele e sua esposa na peça.
Ele me enganou para sair com sua família em
uma confraternização esquisita?
De jeito nenhum eu iria encontrar sua
tia e tio agora, ou nunca.
— Eu só quero ir para casa. —
murmurei.
Ambos olharam para mim.
— Vou te levar para casa. — Joe
repetiu.
Peter suspirou. — Tudo bem. Eu tenho
que ir ou vou chegar atrasado. Tem certeza de que está tudo
bem com ele te levando para casa?
Não era como se eu tivesse muita escolha. Peter
estava praticamente me abandonando longe de casa.
— Está tudo bem. Apenas vá, Peter.
Ele se inclinou e beijou o topo da
minha cabeça.
— Eu te ligo mais tarde.
‘Não se incomode’, eu murmurei para mim mesma.
Nunca tinha estado dentro da camionete
de Joe antes. O carro estava precisando de uma boa limpeza, e havia garrafas de
água
espalhadas pelo chão e um livro de colorir da Cinderela no banco entre nós.
Cheirava a uma mistura de seu sutil perfume e o aroma picante de um homem depois
de um dia duro de trabalho.
Ele não disse nada enquanto
dirigia. Só olhou para a frente e apoiou uma mão em
cima do volante.
Quando ele virou para o meu bairro,
percebi que não tinha lhe dado o meu endereço, nem ele tinha pedido
direções.
Estacionou ao lado do meu carro e desligou a ignição.
Ficamos em silêncio por alguns
momentos. Felizmente, meus pequenos soluços tinham se acalmado.
— Obrigado por me trazer para casa. —
Eu empurrei contra a porta da camionete e desci com cuidado, percebendo que o chão estava
mais longe do que eu pensava.
Ele me encontrou ao lado da camionete
e pegou a minha mão, me parando.
— Espere. Me deixe explicar.
Eu não sei o que deu em mim,
se era o encerramento que eu precisava, ou a minha própria
curiosidade mórbida sobre sua namorada grávida, mas eu assenti.
Passei meus braços em volta de mim,
me preparando para sua explicação.
— Não aqui. Me convide para
subir, Dê.
Assenti em consentimento e o levei
para dentro. Joguei minha bolsa e as chaves sobre a mesa de entrada e fiz meu
caminho para o sofá, sem saber quanto tempo mais as minhas pernas trêmulas
iriam suportar o meu peso. Eu sentei e imediatamente me enrolei em uma bola.
Esperava que Joe e estivesse logo atrás de mim,
mas estranhamente, o ouvi remexendo dentro da minha cozinha. Levantei a cabeça
e o vi andar em minha direção carregando um copo de suco de laranja, uma caixa de
lenços de papel e uma caixa de analgésico. Estendeu o copo de suco para mim ao
mesmo tempo que abriu o frasco de comprimidos. Só quando eu engoli a dose
é que ele se sentou ao meu lado. Sua notícia tinha que ser ainda pior do que eu
imaginava, já que ele estava sendo tão gentil comigo. Talvez
Sara estivesse grávida de gêmeos, ou eles estivessem noivos. Droga, por que
eu não tinha verificado
a mão esquerda?
Não que
isso importasse, eu me lembrei.
Eu tomei uma respiração
profunda. — Então, para quando é o bebê?
Seu rosto se contorceu em confusão. — De
quem? Sara?
Obviamente. Eu assenti.
— Ah, final de abril, eu acho.
— Bem, eu sinto muito pela minha reação...
isso me pegou de surpresa.
Pedi desculpas pelo meu ataque de
ansiedade em público, mas não ia oferecer os meus parabéns nem abrir o
champanhe.
Joe analisou minhas características
com um ar cansado e esfregou a mão sobre a parte de trás do seu
pescoço.
— Porra, docinho, o bebê não é meu.
OMG!
ResponderEliminarEu preciso de mais!
Tá lindo! Posta logo.....