— Com quem estava falando ontem à noite? Pensei ter ouvido você conversando
com alguém — perguntou Vanessa enquanto nos arrumávamos pela manhã para um novo
dia de aula. Eu sentia como se houvesse areia nos meus olhos, não havia dormido
nem três horas.
- Com ninguém. Devo ter falado enquanto dormia — tive que mentir, não
iria simplesmente largar uma bomba para ela logo pela manhã em um dia
ensolarado e bonito como hoje. Não conseguiria apenas dizer: “Ah apenas
conversava com Joe-sem-sobrenome. É, ele estava aqui ontem a noite me encarando
como se tivesse visto um fantasma” — isso ia soar maluquice, porque Joe-sem
-sobrenome nem me conhecia, então nunca iria aparecer no meu quarto no meio da
noite para simplesmente quase me matar de susto e me encarar.
— Meus irmãos mais novos sempre faziam isso, o que me deixava maluca —
ela confessou enquanto jogava sua mochila para cima de seu ombro direito. Eu
fiz o mesmo e a segui.
— Boa aula, Demi — Vanessa se despediu quando nos separamos no corredor
da universidade. Eu disse o mesmo e falei para nos encontrarmos no refeitório
depois da aula, assim como nos encontramos todos os dias.
Quando sentei em meu lugar habitual na sala de aula, bem ao centro, eu
reparei que devia ter colocado outra calça jeans, essa estava muito apertada,
devia ter engordado ou esta calça era uma das antigas.
Meu desconforto era visível para todos os presentes, mas acho que
Sterling chamava mais atenção que o meu desconforto. O rosto dele estava
pálido, com olheiras em baixo dos olhos, parecia que não dormia há dias. Ele
sentou-se ao meu lado e ficou resmungando algumas coisas que eu não consegui
decifrar.
— Como foi a festa? — perguntei tentando parecer curiosa, no que na
verdade não estava nem um pouco.
— Ótima — ele respondeu sem sequer olhar-me nos olhos e de uma maneira
bruta. Ele apenas estava esparramado em sua cadeira ao meu lado prestes a
dormir ou a vomitar.
— Demi posso dar uma palavrinha com você? — me chamou Olivia, minha
professora de anatomia descritiva quando chegou na sala para dar aula. Eu me
levantei, desci as escadas e fui até ela. Olhares curiosos se viraram para mim,
o que me deixou muito vermelha e sem graça.
— Dei sua inscrição para o pessoal encarregado dos estágios e você foi
colocada no turno da noite como você preferiu. Já entrarem em contato com você?
— eu respondi um não com a cabeça e ela prosseguiu.
— Então, você foi designada para cuidar do necrotério das 18h até as
22h, e organizar a papelada de quem entra e sai — ela me disse, consultando seus
papéis. Eu fiquei pasma e não respondi nada. Não tinha certeza se tinha ouvido
direito: ela disse necrotério? Tipo, aquele lugar que ficam as pessoas mortas?
Eu deveria cuidar daquele lugar ã noite? Eu?
— Q-Quando eu começo? — perguntei quase aos gaguejos.
— Hoje à noite. Seus horários vão contar como horas extras e será muito
bom para o seu currículo. E ainda vai ganhar um dinheiro extra — ela disse
sorrindo para mim e eu retribui, só que falsamente. Virei às costas e voltei ao
meu lugar, perplexa, e encontrei um Sterling dormindo e babando em sua cadeira.
Bom, pelo menos ele não estava vomitado.
Não consegui prestar atenção no que Olivia falava sem parar para toda a
turma. Apenas encarava meu caderno, as palavras que havia escrito ali.
Necrotério 18h às 22h. Sabia que aquela era uma ótima oportunidade para mim e
agradeço profundamente a Olivia por me notar. Mas necrotérios são assustadores,
eles não são retratados nada bem nos filmes de terror. Fiquei toda arrepiada
somente em pensar em estar em um lugar assim à noite. Será que os encarregados
desses estágios não podiam, sei lá, ligar para mim e perguntar o que eu queria
fazer? Ou seria isso um tipo de pegadinha em calouros? Não, Olivia era séria
demais e nunca Faria isso com seus alunos.
— O QUÊ? NECROTÉRIO? É SÉRIO? - gritou Vanessa no refeitório. Eu assenti
e ela soltou uma grande gargalhada. — Isso é demais, eu gostaria de trabalhar
em um lugar assim. É tão sombrio e macabro.
— Vamos trocar então — sussurrei encarando minha comida intocada.
Quando senti tipo um terremoto ao meu lado, notei que Sterling havia se juntado
a nós, e seu rosto não havia melhorado nada.
— Meu Deus, o que aconteceu com você? — perguntou Vanessa sem rodeios
quando viu o estado de Sterling. Mas ele não respondeu a ela, e se virou para
mim com um ar zangado.
— Por que você me deixou na sala de anatomia? Olivia me acordou, nunca
fiquei tão envergonhado em toda a minha vida.
— Você estava babando no meu ombro a aula inteira e eu tentei sim te
acordar, Ster, mas você só resmungou. Deveria ter pensado duas vezes antes de
ter ido naquela sua festinha — eu tentei mesmo acordá-lo, mas ele apenas se
virou como se estivesse na própria cama. Ele poderia estar zangado comigo, mas
eu também estava zangada com ele.
— Tanto faz. A festa foi boa, pelo menos — ele disse rudemente e começou
a saborear seu almoço equilibrado em silêncio.
- Adivinha, Ster? Demi vai trabalhar no necrotério dá para acreditar? —
Vanessa jogou na cara dele. Ele se engasgou com a comida e logo pegou sua Coca-Cola
para limpar a garganta. Olhou de mim para Vanessa, e como ele percebeu que não
estávamos brincando, ele perguntou:
— É sério mesmo? Porque isso é difícil de acreditar sim ele respondeu
por final.
— Por que é tão difícil de acreditar, gente? Eu sou uma escolha totalmente
apta a trabalhar no necrotério da universidade — eu disse de uma maneira
triste, que logo Vanessa captou.
— Não é isso, Demi. Não estamos questionando suas habilidades, é só
que... bom... é difícil, sabe, a gente imaginar você lã, toda inocente, loira de
olhos azuis como um anjo, trabalhando em um necrotério. Seria como ver o Sterling
aqui namorando o Connor. Muito estranho e difícil de visualizar — Vanessa
respondeu por ela e por Ster. Vi que Ster não gostou nada de Vanessa ter usado
ele e o Connor como exemplo, a expressão dele me fez rir. Mas acho que eles
tinham razão, seria esquisito mesmo me ver lá à noite. Não sou uma típica
garota que cuidaria de um necrotério. Mas quem seria? Uma garota de cabelos
pretos e gótica?
— Apesar de não ter gostado do exemplo, eu concordo com a Vanessa.
Ótimo, ambos os meus amigos, e únicos amigos, me achavam estranha em um
necrotério, Eu até ficaria chateada se eu mesma não sentisse a mesma coisa.
Hoje seria o meu primeiro dia como estagiária e eu já estava morta de medo e
ainda era a hora do almoço. Hoje não era um dia bom, não havia de novo dormido
bem, a comida que havia recém- ingerido estava dando voltas no meu estômago...
acho que iria passar mal.
— Vou ao toalete — avisei a meus amigos e logo segui para o banheiro.
Dei um encontrão com Brian, amigo de Joe, enquanto estava distraída, ele era praticamente
uma parede. Seus músculos são quase do meu tamanho.
— Epa.
— Desculpe, Brian, estava distraída — falei um pouco envergonhada.
— Tudo bem... Demi, não é?
— Isso mesmo — eu iria seguir meu caminho para o banheiro porque estava
realmente mal, mas queria perguntar algo para Brian. — Ei, Brian, alguma
notícia de Joe? — ele franziu a testa com a minha pergunta, devia estar
pensando quem eu era ou o que eu poderia sentir pelo Joe para estar tão
preocupada e à procura de notícias.
— Nada ainda, Demi, mas se souber de algo eu te assim dito.
Eu sorri e agradeci. Quase corri para o banheiro quando me dei conta de
que não aguentaria segurar o vômito. Eu dei sorte, consegui chegar a tempo e acertei
a privada. Eu devia estar doente ou algo assim, minha dor de cabeça havia
voltado tão abruptamente que senti uma vontade imensa de botar tudo para fora
como se tivesse acabado de sair de uma montanha russa com o estômago cheio.
Na próxima aula não foi somente Sterling que parecia mal, agora éramos
dois. Eu não consegui prestar muita atenção nem pude aproveitar alguma coisa.
Quando o sinal tocou, eu fui correndo até meu quarto, botei o travesseiro cm
cima do rosto para tapar todas as pessoas rindo e conversando lá fora e caí no
sono.
— Demi, acorde... DEMI! ouvi alguém gritando meu nome e me sacudindo
delicadamente. — Você vai chegar atrasada no seu primeiro dia de trabalho,
acorde! — Vanessa mandou quando abri meus olhos pequeninos.
— O quê? — perguntei sem entender nada.
—Já são quase 18 horas. Você vai chegar atrasada — ela repetiu e eu me
sentei na cama como um flash. Tentei abrir meus olhos ao máximo e comecei a
pensar. Levantei-me da cama e fui até o banheiro, enxaguei meu rosto, prendi
meu cabelo em um rabo de cavalo alto e troquei de blusa. Quando saí, Vanessa me
observava, preocupada. — O que aconteceu? Quando cheguei aqui esperava
encontrar esse lugar vazio, mas em vez disso você estava esparramada na cama
como se fosse uma defunta — ela falou seriamente, e tudo cm que consegui pensar
naquele momento é como eu tinha sorte de ter encontrado uma amiga como a Vanessa
aqui. Mais sorte ainda de ela ser minha colega de quarto.
— Acho que eu estou doente, mas não é nada de mais, Vanessa. Vejo você
mais tarde — tentei parecer bem disposta e sorri. Peguei meu casaco e o iPod e
saí com o mapa da universidade nas mãos. Era no prédio 6, tinha que correr até
lá.
Cheguei ao necrotério ofegante por causa de minha correria, pelo menos
havia conseguido chegar uns três minutos antes das 18h. Eu suspirei quando me
dei conta de que não estava atrasada no primeiro dia de estágio. Muito obrigada por me acordar, Vanessa, te
devo uma. Aquele lugar cheirava estranho, muito estranho. Será que iria me
acostumar com esse cheiro?
— Ah você deve ser a nova estagiaria — disse um homem de aparentemente
uns 40 e poucos anos empurrando uma maca de rodinhas com um corpo morto tapado
com um lençol branco. Eu estremeci, mas ele nem notou. — Vá até a recepção e
peça a Gabriel o seu crachá e o seu avental — ele disse continuando seu trajeto
e entrando em unia porta transparente.
Fui procurar Gabriel como aquele senhor (quase tinha certeza que ele
era meu chefe) pediu. Gabriel estava quase dormindo quando cheguei até ele.
— Graças a Deus, achei que você não viria — quase gritou ele, aliviado,
quando abriu seus olhos e me viu. Mas antes eu tinha dito um “oi” de leve para não assustá-lo. — Aqui está
o seu crachá, o jaleco... e essa vai ser a sua mesa daqui para frente. Esse
lugar não é tão horrível depois que você acostuma. E, por favor, não pire com
os barulhos quando estiver sozinha por aqui, as pessoas sempre acham que
existem fantasmas quando estão em um necrotério começou a me explicar Gabriel,
e logo percebi que eu ficaria no lugar dele. Ele estava tão feliz e aliviado,
não via a hora de sair dali e nunca mais voltar. — A papelada é fácil de fazer,
o senhor T vai explicar tudo para você mais tarde. E que mais posso dizer... —
ele parou e olhou para todos os cantos para ver se estava se esquecendo de
alguma coisa com o dedo no queixo. — Ah, não traga amigos para cá. Alguns
estagiários fizeram isso antes de mim e o senhor T pirou e quase os enxotou
daqui na base da violência. O senhor T é o seu chefe, a propósito, ele fica
aqui à noite também, mas ele fica lá dentro com os defuntos — ele apontou para
a direita. Então a parte com os corpos ficava para aquele lado. — E não
esquenta, o senhor é gente fina e muito agradável, só não desrespeite as
pessoas mortas que, daí sim, ele fica uma fera. Ele até conversa com eles de
vez em quando... — Ai, meu Deus, esse garoto não parava de falar um minuto. —
E, ah, quando o senhor T te chamar, você vai correndo. Um defunto acabou de
chegar, então ele provavelmente vai precisar de você daqui a pouco. E agora eu
estou indo. Boa sorte — ele finalmente parou de falar quando me entregou uma
caderneta com lacunas para eu preencher com os dados das pessoas falecidas.
Fiquei observando Gabriel ir embora... ele estava tão feliz! Será que aquele
lugar era tão horrível assim?
Larguei na mesa de Gabriel — ops, agora era minha mesa - o que tinha
nas mãos, vesti o jaleco branco e prendi meu crachá com meu nome.
Quando me virei para pegar a caderneta que havia largado na mesa para ir
procurar o senhor T, dei de cara com alguém.
— Ai, meu Deus, Joe, você quase me mata de susto — parei um instante
com as mãos no peito, fechei os olhos e respirei fundo. — O que você está
fazendo aqui, e por que ninguém sabe onde você está? Está todo mundo morrendo
de preocupação.
— Demi, eu...
— E eu sei que não gostamos um do outro, mas mesmo assim eu fico
preocupada com as pessoas. Mesmo com aquelas que eu não me dou muito bem e que
me odeiam continuei meu discurso sem nem mesmo escutar o que ele estava
tentando dizer.
— VOCÊ MORREU AÍ, CALOURA? VENHA FAZER SEU TRABALHO! — gritou o senhor
T da sala onde guardavam os falecidos. Eu peguei minha prancheta e uma caneta e
corri até lá com Joe atrás de mim.
Será que o senhor T iria ficar bravo? Porque Gabriel acabara de me
avisar para NÃO trazer amigos. Mas, tecnicamente, Joe não era meu amigo, e era
meu primeiro dia, o senhor T podia não ficar bravo nem nada. — Ah, você está aí
— ele disse enquanto eu entrava quase aos tropeços. Naquela sala o cheiro era
dez vezes pior do que na recepção, comecei a respirar pela boca e caminhei até
onde o senhor T estava.
Ele estava com um pobre garoto aberto na mesa. Não fiquei enjoada nem
nada porque eu já havia visto gente morta,em um tour que eu fizera antes de
entrar na faculdade. — Anote tudo o que eu disser, certo? — meu chefe perguntou
e eu assenti. — Ótimo — ele colocou seus óculos e com as luvas ensanguentadas
começou a ler uma ficha. Engraçado... ele nem havia se importado com a presença
de Joe, que estava a meu lado sem dar um pio. — O nome desse garoto é Joe Adam
Jonas, idade, 23 anos, olhos cor de mel, cabelos pretos... — senti meu coração
pular mais rápido a cada palavra que ele pronunciava. Quantos Joe poderia face
da terra podiam ter as mesmas características físicas? Meus olhos caíram no
rosto do rapaz morto e olhei para Joe ao meu lado e eu quase comecei a rir.
— Isso é algum tipo de piada? — eu perguntei quase a beira das gargalhadas.
— Não tem nada engraçado na morte de alguém, mocinha — ele disse sério.
Eu fiquei vermelha e minha vontade de rir desapareceu.
— Mas é impossível, ele não pode estar morto. Ele está bem aqui no meu...
— e quando eu me virei Joe não estava mais ao meu lado.
Minha cabeça começou a girar e eu não me senti muito bem.
— Ele não tem um irmão gêmeo, por acaso, tem? — perguntei, mas já sabia
a resposta. O que será que estava acontecendo comigo? O que estava acontecendo?
— Você está bem... ah... Demi? — ele perguntou largando os papéis e
caminhou até mim, me chamou pelo nome quando leu meu crachá.
— É só que... eu... não pode ser... eu o conhecia. Pode me dar licença?
— perguntei quase a beira do desmaio. Quando ele disse que sim, eu lhe
entreguei a prancheta e corri porta afora à procura do banheiro.
Corri pelos corredores cinzentos e assombrosos não acreditando no que eu
havia visto naquela mesa. Não podia ser, eu o vi ontem a noite no meu quarto e
sem falar que ele tinha acabado de aparecer ao meu lado. Ou eu estava
imaginando tudo aquilo? Finalmente eu encontrei o banheiro feminino, e era tão
pequeno que achei que poderia sufocar. Caminhei até a pia e lavei meu rosto com
água gelada.
— Você está bem? — uma voz masculina perguntou, eu soltei um grito e
comecei a tremer.
— Esse é o banheiro feminino, você não deveria estar aqui... Joe —
sussurrei à beira das lágrimas.
— Desculp... — ele começou a falar, quando me virei para encará-lo.
— O que você está fazendo aqui? Você está morto, Joe, não pode estar
aqui. Ai, meu Deus, estou completamente maluca, estou falando com um cara morto
— disse levando as mãos pro ar e molhando todo o espelho que havia atrás de mim.
— Olha garota, você acha que eu não sei que estou morto? Eu estou atravessando
paredes durante horas e aparentemente ninguém consegue me ver além de você.
Você deve ser mesmo muito esquisita — disse ele duramente, mas eu acho que
mereci.
— Vi que você não mudou em nada desde que morreu.
— E por que mudaria?
— Fique longe de mim — eu pedi com muita raiva em minha voz, apontando
para seu rosto morto. Nunca tinha ficado tão brava com alguém assim antes. E é
irônico que somente um fantasma era capaz de me tirar do sério. Não acreditei
que tinha acabado de pensar na palavra “fantasma”. Será que eu estou ficando
maluca?
Olhei-me no espelho novamente e tentei parecer apresentável para o
senhor T quando voltasse. Fechei os olhos e pensei que ele já devia ter tido
uma primeira impressão de mim e que não devia ser nada boa. Que primeiro dia,
hein? Tinha esperança de, quando abrisse meus olhos, nada daquilo houvesse
realmente acontecido. Que eu somente estava no meu quarto tendo um sonho maluco
com uma aparição de Joe... mas quando os reabri, Joe ainda estava ali atrás de
mim, encarando-me pelo espelho com um rosto quase que triste e pedindo perdão
por tudo de mal que ele algum dia havia feito.
— Por que você ainda está aqui? — murmurei e levei água até meu rosto
novamente. — E por que só eu posso vê-lo? — sussurrei tão baixinho que somente
eu pude ouvir, mas era esse o meu propósito.
— Pra onde eu posso ir? Ninguém me vê — respondeu ele tristemente e
bufando.
— É, mas eu tenho que trabalhar, e ter você lá no meu lado me observando
a cada segundo não vai me fazer bem... eu tentei não ficar irritada, afinal ele
estava mesmo triste e estava morto. — Depois do trabalho você pode aparecer lá
no meu quarto — eu terminei e ele me olhou com um brilho de esperança fora do
normal. Ele de algum modo sorriu e fez que sim com a cabeça. Aquele sorriso
quase me fez derreter, e depois disso ele desapareceu diante de meus olhos.
Pisquei diversas vezes e meus olhos se encheram de lágrimas. Não acreditava que
tinha acabado de convidar um Fantasma para meu quarto.
Eu não podia estar gostando de um cara morto, isso não era saudável e
com toda a certeza do inundo não era nada normal. Ai, meu Deus, talvez eu seja mesmo uma
esquisitona, das grandes. Caminhei de volta até a sala dos defuntos e onde o
senhor T me esperava preocupado.
— Você está bem mesmo? Porque você não estava nada bem quando saiu
daqui correndo — ele me perguntou novamente e eu lhe dei a mesma resposta.
— Estou bem, senhor T. Sério mesmo.
— Ótimo. Agora vamos ao trabalho, não é mesmo, mocinha?
O senhor T pesava os órgãos de Joe na balança ao lado de onde o corpo
morto dele descansava. Enquanto ele fazia isso, eu anotava na minha prancheta
todos os dados. Toda vez em que olhava para o corpo sem vida de Joe eu sentia um
aperto no coração.
— Qual é a causa da morte? — eu perguntei curiosa e também com medo da
resposta. Eu conhecia o Joe, eu poderia não gostar dele (eu gostava???), mas eu
não suportava a ideia de uma pessoa fazendo mal a uma pessoa que eu conhecia.
Ainda mais uma pessoa como o Joe... tão lindo. Mas também ele poderia merecer,
quero dizer, ele não era e ainda é grosso e rude com as pessoas? E isso pode
tirar algumas pessoas do sério.
— Ele foi estrangulado — o senhor T respondeu mostrando as marcas de
mãos no pescoço de Joe. Nesse momento eu senti pena dele... coitado do Joe. O
que fizeram com você? — Aconteceu ontem por volta das 4 horas da manhã. Ele foi
encontrado hoje por volta das 14 horas dentro de uma sala de limpeza da
universidade — meus olhos foram para meu chefe ligeiramente, como se ele
acabasse de dizer que tinha transado com a minha mãe. Sobressaltei- me porque
foi praticamente neste horário que Joe havia aparecido no meu quarto, ontem á
noite. Será que foi por isso que ele me encarava tão assustado?
Porque sabia que estava morto e que eu, Demi Lovato, podia vê-lo?
Eu e o senhor T fizemos os mesmos procedimentos nos rãs corpos seguintes.
Fiquei aliviada em saber que não conhecia nenhum deles.
Conhecer um dos mortos pessoalmente já era o bastante.
— Qual seu nome? — perguntei ao meu chefe no silêncio que estava
começando a me incomodar.
— Ah, eu não disse ainda? — ele perguntou sorrindo, e disse que não com
a cabeça. —Bom, meu nome é Troy, Troy Halling, mas pode me chamar de senhor T.
Aparentemente os garotos de sua idade gostam de chamar assim. Dizem que Troy é
muito infantil, então virou moda — respondeu ele dando um simples sorriso. O senhor
T era de fato agradável, como o Gabriel tinha comentado antes de cair fora do
necrotério. Ele tinha cabelos castanhos escuros, mas com muitos fios brancos.
Vestia aquelas roupas de médico azuis que combinava com seus olhos claros.
— Fico feliz que você está segurando a barra murmurou enquanto carregava
um coração com ambas as mãos, de uma mulher idosa. — Muitos começam aqui e não
duram nem um dia. Mas estou sentido que você pode cuidar da situação.
— Por quê? Eu praticamente pirei há algumas horas atrás.
— Você passou mal porque conhecia o falecido, é diferente. Muitos começam
aqui e vomitam a cada vez que disseco um de nossos amigos aqui. E outros
desistem facilmente — agora ele carregava o pâncreas.
— Não vou desistir — disse firmemente e ele sorriu feliz como um pai
orgulhoso.
Quando terminamos o trabalho eu segui para a recepção e encontrei uma
senhora com urna cara desagradável andando para lá e para cá. Ela estava
nervosa e com os olhos muito vermelhos.
— Posso ajudá-la? — perguntei com uma voz agradável. Acho... q- que
sim. Meu s-s-s-sobrinho Joe...está aqui. Eu q-q-q-quero, sabe...me despedir —
disse ela aos gaguejos. Meus olhos começaram a brilhar mais que deveriam por
conhecê-la em uma circunstância como aquela.
— Claro, senhora...?
— Pode me chamar de Elly.
— Tudo bem, Elly. Pode caminhar comigo — a guiei para a sala onde
estava o corpo de Joe. O Sr. T estava lá ao lado do corpo descansando sob um
lençol branco que lhe cobria até a cabeça. Quando chegamos em frente à maca,
Elly, apesar de não me conhecer, se grudou em meu braço esquerdo, tremendo.
Troy olhava para nós duas com um olhar de tristeza.
— Você está pronta? Troy perguntou. Elly demorou a responder por causa
das lágrimas que escorriam em seu rosto triste e apavorado.
— S-s-s-s-sim — ela finalmente disse aos gaguejos e apertou mais meu
braço. Eu quase gemi de dor, mas foi Elly quem gemeu, quando viu o rosto sem
vida do sobrinho. Ela largou meu braço e ficou bem pertinho do rosto de joe.
Sua mão tremia quando a fez o movimento para passá-la no rosto pálido e sem
vida do sobrinho. Elly desatou a chorar e murmurar:
— Tão novo... tão bonito
Quando me dei conta, as lágrimas escorriam em meu rosto e iam parar em
meu queixo. Olhei para Troy e vi Joe ao lado dele observando a tia. Seu rosto
era de dar pena, eu o abraçaria até o fim de meus dias, se ele estivesse vivo.
— Por favor, diga a ela que eu a amo — ele pediu sem tirar os olhos da
tia. Eu limpei as lágrimas que ainda estavam em meu rosto e a garganta.
— Ele te amava muito sra Elly — eu disse quase sussurrando.
Qualquer som neste lugar soaria alto demais.
— Você o conhecia? — ela perguntou olhando-me nos olhos.
— Ele era... —parei de repente e olhei para Joe. Ele exibia um sorriso
triste em minha direção — ...meu amigo. Ele me contou que a amava muito. — Elly
enlaçou meu pescoço com seus braços e me abraçou apertado. O sorriso de Joe
agora ia de orelha a orelha. Não sei por que ele estava tão feliz, se fosse eu
no lugar dele, choraria sem parar como uma condenada.
Depois de muitas lágrimas Elly foi embora, mas deixou para trás convites
e mais convites para eu visitá-la quando possível. Se eu era amiga de Joe, eu
era, portanto, amiga dela. Eu não me importei com seu pedido, aliás, fiquei
contente de ela pensar em mim como uma das amigas de Joe. Assim talvez Joe
aparecesse quando eu estivesse por lá e eu poderia mais uma vez dar recados
dele para ela.
A cavalaria chegou momentos depois de Elly ter ido embora, e quando eu
digo cavalaria eu digo a polícia.
Eles procuravam provas do crime, alguma coisa de útil que levasse ao assassino.
O sr. T não conseguiu dar muitas informações além de que ele fora estrangulado
e havia pele sob suas unhas. Nada no corpo de Joe revelava algo mais, porém
talvez apenas a “pele” pudesse ser o suficiente.
O DNA dessa pele poderia ser processado e talvez, se tivéssemos sorte,
iria bater com alguém que já tivesse ficha, ou até mesmo com algum suspeito que
já tivessem.
O sr.T não conseguiu ficar de boca calada e me envolveu na investigação.
Ele contou que eu era amiga de Joe, e logicamente os policiais vieram me fazer
algumas perguntas. Como se eu pudesse saber de alguma coisa; Joe me odiava,
afinal de contas, até parece que ele me contaria algo da sua vida. Mas como eu
tinha, sim, presenciado uma cena esquisita na última vez que eu o vira, achei
melhor dar isso para polícia.
Poderia ser alguma pista.
— Eu vi Joe discutindo com um dos meus professores. O professor Bradley
se não me engano, Sr. Policial.
E foi isso o que eu contei, o policial experiente com muíto gel no cabelo
chamado Lewis disse que isso já era algo para seguir em frente.
Poderia ser verdade, mas eu duvidava que Bradley tivesse algo a ver com
isso, ele poderia ser rígido e um pé no saco, mas a última coisa que ele parecia
era um assassino de alunos.
XOXO Neia *-*
Comentem!!!
Estão a gostar?? Espero que sim :)) Que acham que vai acontecer??
Ajudem a divulgar pff
Kiss
Amei Andreia posta logo.
ResponderEliminarCapitulo grande hein huashahusuh.
Sério a sua escrita é perfeita.
Ajuda? Segue comenta lê divulga?
http://amorquematajemi.blogspot.com.br/